quarta-feira, 17 de junho de 2009

Eu e o Augusto, o meu primo


Tinha eu talvez uns 7 anos quando aconteceu uma história que hoje me dá vontade de rir. Morava em Lisboa e era hábito eu ir à padaria ao fim da tarde. Padaria essa que ficava distante de casa e no meu pequeno passo talvez demorasse cerca de meia hora a lá chegar. Naquele tal dia dos factos, além do pão, fui incumbida de trazer o meu primo Augusto com cerca de três anos de idade, da creche que ficava mesmo em frente à padaria. Apenas me foi recomendado que lhe desse sempre a mão.

Acontece que à vinda tinha que passar no Largo da Igreja do Lumiar, ou de São João Baptista e estando a D. Maria, funcionária da Igreja à porta, ela que também era governanta do Prior, falou comigo no sentido de a ajudar a limpar o pó dos bancos da igreja. Eu gostava dessa tarefa e não em importei de ajudar. Sentei o Augusto num dos bancos, pendurei o saco do pão no mesmo banco e lá comecei com a limpeza dos mesmos. Eu num dos lados e ela noutro. Perdemos a noção do tempo e sem que déssemos conta, as nossas mães, aflitas, percorreram tudo o que era caminho provável por onde devíamos passar, nunca lhe ocorrendo que podíamos estar dentro da Igreja. E o tempo a passar e de nós nada. Até que numa última hipótese lembraram-se de atravessar o Largo da Igreja, tendo já acordado que depois desta tentativa para nos encontrarem, iriam dirigir-se à Esquadra da PSP que existia na Rua do Lumiar, a fim de participarem o nosso desaparecimento. Quando estão a passar em frente à dita Igreja, estava a tal D. Maria à porta e vendo-as muito aflitas disse-lhes que nós estávamos lá dentro entretidos.

Escusado será dizer, que as nossas mães íam tendo um ataque cardíaco com esta situação de aflição e desataram a insultar a D. Maria, por ter sido irresponsável e que tinha tido obrigação como pessoa adulta de ter o bom senso de nos mandar para casa o mais rápido possível. Estiveram muitos anos zangadas com ela mas com o passar do tempo reataram as falas. Este caso passou-se quase há cinquenta anos e como tudo era ingénuo. Até a D. Maria, que podia ser nossa avó, levou essa ingenuidade ao limite.

Muitos anos depois, sempre que passava por ela, lá me lembrava da limpeza do pó aos bancos da Igreja e ria-me para mim. Hoje que já sou avó percebo a aflição que as nossas mães sentiram, pensando que nos tinham raptado.

2 comentários:

Faniquito disse...

Oii Isabel !!!!

Pois eu tb ri com seu relato...como são lindas essas memórias.A ingenuidade de criança, a simplicidade da vida...adoro isso.E vc já reparou como esses acontecimentos já não se repetem nos dias de hoje?!?Tudo foi se complicando, as pessoas foram se "fechando", enfim!!!

Muito bom poder compartilhar esse momento.:)

Beijinhos

Ana

Pacista disse...

Olá Isabel,eram realmente outros tempos mas as mesmas peocupações no que se refere aos pais. Ainda agora o Diogo ( com 12 anos) foi para o Kickboxing aqui por trás da minha casa e eu vou ás duas janelas (trás e frente) vê-lo ir e sair do ginásio.Francamente deve ter sido uma aflicção muito grande Beijinhos Augusto Santos